
Há algum tempo, durante os 3 (as vezes 4) diferentes percursos que faço dentro de um ônibus até chegar onde estudo, eu fixo meu olho por mais alguns minutos nos meus companheiros de coletivo. Não os conheço, não tenho certeza se estão indo ou vindo, mas todos estão cansados. As 17:58h todos estão cansados. Além do cansaço, reparo como são introspectivos: cada um em seu ônibus particular, vão longe enquanto pensam em seus problemas, dívidas e amores.
Mas nem só de problema, dívida e amor vive um trabalhador, estes precisam ser chacoalhados.
Uma vez em que vendia poesia na rua com Heyk , falávamos sobre a militância do artista. Acho que a principal forma de militância hoje é a intervenção urbana. Assim como o teatro de rua, a récita de poesia em praça pública... as pessoas precisam ser provocadas, estimuladas a mudar qualquer coisa.
Daí vem a minha parte na história da intervenção: Saco do meu bloquinho de papel colorido e desenho ali o rancor de um, a beleza de outro... ou até arrisco sugerir, através de imagens subjetivas, o que eu acho que falte praquela pessoa. E num momento oportuno, dou um jeito de entregar esse desenho pra pessoa, sem que pareça um presente ou homenagem: o negócio é esperar o sujeito se levantar pra descer do ônibus e entregar o desenho dizendo que foi um papel que saiu das coisas dele. Daí, é se deliciar imaginando quantas reaçõs pode ter causado. Talvez, olhar pros lados e pensar se realmente está certo achar que deste ônibus só você, vovó evangélica, vai pro céu.
Beijos